terça-feira, 28 de julho de 2009

Um dia de fúria no shopping


Fim de semana é sinônimo, para muita gente, de idas ao shopping. Esses pólos do consumo estão planejados para gerar bons negócios para os lojistas, e interesse, para os potenciais clientes. Foi com base em estudos que alguém teve a idéia de separar a escada rolante que sobe da que desce, obrigando-nos a dar mais uma voltinha pelo corredor, o que pode acabar numa comprinha por impulso.

Com tantas estratégias subliminares a nos seduzir, me pergunto por que ainda não criaram uma fórmula mais eficaz para a abordagem feita pelos vendedores aos recém-chegados clientes. Adoro uma comprinha, mas confesso que não tenho muita paciência para o ritual do “posso ajudar?”, ou “você está procurando algo especial?”, quando você chegou ali por mera curiosidade ou nem se deu conta ainda de onde foi parar. Dá vontade de dizer, “sim, pode ajudar pagando a conta no final, você topa?”.

Ok, posso estar sendo rabugenta demais. O problema é o que se ouve depois dessa pergunta inicial. Se você disser que, “não, só estou olhando”, corre o risco de ser apresentada à toda a “nova coleção” sem ter perguntado por ela. E se você estiver procurando algo específico, tipo “uma blusa branca de malha justa” e a vendedora for do tipo que não perde uma chance e não tiver nada semelhante ou genérico para te mostrar, ela saca lá da outra arara uma bata colorida e tenta te empurrar. “Mas essa aqui é a sua cara. Não custa experimentar”. Custa, sim, querida, meu tempo.

Quem nunca se irritou ou deixou de comprar algo por causa de uma abordagem infeliz ou solícita demais? Ou, pior, por causa de uma opinião flagrantemente mentirosa? Uma vez experimentei uma calça jeans que tinha pelo menos um palmo além do comprimento das minhas pernas. Como era algo urgente, que eu queria levar para uma viagem, e não poderia deixar lá para fazer bainha, a vendedora nem titubeou. “Ficou ó-ti-mo!”. Fui embora.

Dia desses deixei de comprar o hidratante que uso costumeiramente porque ao pisar na loja fui assaltada por uma vendedora solícita além da conta. Eu disse que estava lá atrás do produto tal, mas que antes daria uma olhadinha nas promoções, obrigada. Pra quê? Eu não podia fixar distraidamente meu olhar em nenhuma prateleira, que ela logo desfiava uma interminável lista das qualidades dos cosméticos expostos nas estantes, com uma quantidade de informação tão assombrosa e decorada, que até o preço, escrito em plaquinhas bem legíveis, ela repetia para mim.

Como ela notou que eu estou muito grávida, foi logo dizendo que “esse creme previne inchaço” (quem disse que eu inchei?), “esse é ótimo para cicatrização” (quem disse que eu serei submetida a uma cirurgia?), e esse é ótimo “pra acalmar” (eu estava apenas começando a ficar nervosa com ela). E tascava mostras dos produtos na minha mão para eu sentir, cheirar…

Lá pelas tantas, quando eu finalmente me aproximava do produto que justificara desde o início minha entrada na loja, minha cabeça girava. Chequei discretamente com meu marido, que se afastava cada vez mais de mim e de dela: “Essa moça não pára de falar? Quê isso, gente!?”. Foi o bastante para cairmos na gargalhada. Ele saiu da loja. Eu ainda fiquei, buscando com o olhar alguém que me salvasse daquela louca, mas, como isso não aconteceu, e antes que ela começasse a listar as vantagens de um creme para dar firmeza ao busto “muito indicado para depois da amamentação”, cortei o barato dela. “Eu sei, conheço, e não acredito nisso. Obrigada”. Foi minha única tentativa de detê-la, mas não bastou.

Aquilo foi me irritando de tal forma que saí da loja sem comprar o que eu buscava porque ela só faltou ler a bula do hidratante que uso há mais de seis anos. No dia seguinte, voltamos ao shopping para outra pendência qualquer. De fora, esperei a tagarela se afastar da minha prateleira-alvo. Meu plano era entrar correndo, pegar o produto e ir direto ao caixa. Como ela não saiu da zona de risco, fui embora sem botar o pé lá dentro. Meu marido se recusou a fazer isso para mim. “Nem pensar, ela vai querer me apresentar a loja toda”.

Uma semana depois, achei o meu hidratante numa loja de cosméticos multimarcas e topei pagar 20% mais caro para nunca mais ter que encarar a fúria verborrágica da atendente. Ela simplesmente me aterrorizou e, apesar do sarcasmo que toma conta de mim nessas horas, achei melhor evitar o confronto. É muito desagradável dar fora nos outros.


Martha Mendonça

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